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25 Jul
82. Dança para comprar peixes

pego a carteira

coloco peso no bolso

pego máscara

cubro nariz e boca

tato

toco elevador

entro


o chão muda de lugar

gravidade

vinte andares


um

por

um


percebo que meu peso muda

ao descer a relação é outra


primeiro subsolo

carro

carona do filho tenso

quer atenção?


já fiz tanta coisa que ele não gostou

coisas da face mãe

meu corpo mãe


avenida:

você não gosta do outro caminho?

penso:

ah, é que aquele retorno não existia


memória do bairro conversa comigo


o céu quer cair

gotas no para-brisa


danço palavras

boca ventando a máscara

conversa pausa

desço do carro


eu na calçada

homens saem decididos da esfiharia

freiam

eu paro

damos um novo passo ao mesmo tempo

quase trombamos

gargalhadas

sigo num passo quase salto para a peixaria


2kg de cação, moço, tem?


acho que antes falei boa tarde


a travessa

a balança

o peso

a carne de peixe

nada sabe o que estou fazendo ali

faço que não sei também

cartão na maquininha

digito

senha errada


qual é o corpo que confunde as senhas?


comento com a moça sobre o esquecimento

falamos algo sobre essa vida cheia de senhas

sorrimos uma para a outra

somos só e juntas


sacola

2kg a mais na minha gravidade

entro no carro

álcool gel

meu filho espera coisa as coisas que não tenho

quer falar com uma mulher

mãe

que não existe mais


o cheiro do peixe

frequência tensa

meu corpo responde

com saliva batendo na máscara

como quem quer dançar


************


Memória de uma aula que vivi em 2020. Saí da aula e fui comprar peixe. Improvisação com Dudude Herrmann - 19/11/20

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