Adulta, vejo pó. Criança, vejo o giro, sinto o vento e o tato do tecido na minha face. O pó quase me faz engasgar, sorrio.
Girei rindo, rindo, rindo. E ao passar novamente pelo corredor, poucos passos sinto um choro que não era só meu. Era um choro de viagem no tempo, um choro de quem se transporta, sente cheiros, ouve um som que é imaginação e memória.
Ouço passos, ouço sons do encanamento, ouço sons da rua. A avenida é movimentada.
Me sinto em casa e não me sinto em casa.
Quantos corpos sentem em mim?
Estou sozinha e tem uma multidão aqui.
Senti fome, sinto.
Penso na mesa, esta mesa, sempre posta, vejo o saco de pães sobre a mesa.
Chorei. Termino e choro, foi assim da outra vez. Queria saber a imagem microscópica dessas lágrimas de cada dia dessa pesquisa. Lágrimas-mapas. Lágrimas-cartografias.
Foto de Rose-Lynn Fisher - Lágrimas de quando você ri até chorar