Acho bonita a imagem, de um lado um choro, chorando. Do outro um rio, em fluxo. Os dois em movimento - o choro e o rio.
As lágrimas são companheiras desta pesquisa. Fiquei pensando o lugar delas em tudo que faço. Quais leis que regem a queda das lágrimas pesquisadoras?
Sei que brincando no corredor eu me vi num domingo de manhã. Eu em jogo e a casa dormindo. Foi uma corrida disfarçada de quem brinca de esconde-esconde e não quer ser pega. Depois carreguei livros, na cabeça. Li o texto da foto.
O tempo corriqueiro da vida me engoliu de volta, rápido como quem troca uma camiseta. Deixei o corredor e dirigindo para casa, um mover de corpo, algo microscópico se moveu, algo que estava paradinho por anos nos ossos. Se arrepiou, mudou de lugar e tocou meus ombros, pelas costas. Disse: Peguei você!
No susto, o micro-algo começou a bombear e, esbarrando numa mangueira, buscou no poço as lágrimas. As chupou, levando até os canais. A engenhoca não seria tão interessante sem a apresentação do resultado final. Não seria tão fascinante se os canais não desembocassem nos olhos mostrando, por fora, toda a dança.
Se alguém estivesse assistindo, poderia ver o fenômeno na cara molhada de forma desordenada, olhos brilhantes e vermelhos, pingos caindo do rosto, obedecendo as leis da gravidade. Alguém assistindo de dentro pôde e pode ver os olhos aguados, embaciados, lavando de dentro para fora, lágrimas atrapalhando a vista que precisava de atenção para dirigir. Ou agora, escrever.