A ideia era se postar com mãos no chão e pernas para cima, empinar os pés ventando a bananeira. Não procurava entender o corpo por uma técnica. Nenhuma criança pensaria nisso. Nos anos 70, já tinha gente em Sampa que conhecia yoga, mas não a menininha. Mãos no chão, bunda pra cima, tira um pé do chão e joga a primeira perna, sente apoios, tira outra perna rapidinho e retorna. Não deu. Mais uma vez, não deu. Na derradeira tentativa ela cai de cara, frita o nariz no tapete cinza. Eu só me recordo de uma coisa, do constrangimento de chegar no jardim da infância e a professora perguntar o que aconteceu. O nariz era uma casca só. Não importava a queda, o que doía agora era a pergunta sobre o machucado.
Depois de anos encontra uma fotografia. A menina se posicionando, sem técnica, mãos no chão, bunda pra cima. Na direção do rosto, um travesseirinho, o naná, bem instalado para abraçar o nariz numa suposta queda. Fruto da experiência. A menina não desistiu da ideia. Queria mesmo, e ainda quer, a todo custo, ver o mundo de pernas para o ar.
PS.: A fotografia se perdeu.
PS 2.: A fotografia se achou.