Suportar, amparar, escorar. Resistir. Olhar a árvore até os olhos derreterem. Questionar o outro lado da árvore, questionar além da árvore. Questionar até a questão desaparecer. Abrir os olhos, residir não fechar. Chorar de tanto ver até deixar de ver. Fechar de tanto arder. Olhar até deixar de ser. Eu arvore eu. Eu e o ar, o ar um eu.
Ficar na cadeira com a câmera ligada. Sentar-se na cadeira e olhar a árvore. Para me encorajar, liguei uma música que logo acionou angústia de estar trabalhando com memórias tão afetivas. A música era para tentar esquecer que tinha uma câmera ligada. Não esqueci. Era um olhar me lembrando o que pensei em fazer, olhar a árvore sentada na cadeira.
A proposta era olhar a árvore e fazer perguntas. Lembrei um monte de coisas até isso começar a querer acontecer. Lembrei das minhas avós, das fotografias que tenho separado, das dificuldades de andar sem destino, confiando no caminho. Sentar na cadeira é como entrar na máquina do tempo em direção ao passado, mas sem data para chegar. A máquina leva para onde ela quiser. A mente vai e eu queria achar um espaço de presente, a árvore e eu, as duas em presença.
Derreti os olhos de olhar. Perguntei para a árvore se ela estava me vendo. Quis gritar. Que vergonha é essa que me segurou o grito? Mentalmente, a chamei de Vera. A Vera me disse que vê. Sustentei os olhos míopes, um ver sem nitidez, que entrega para Vera um corpo borrão. Meu corpo borrão, borrando a mulher que olha a árvore, borrando a árvore que olha a mulher.
Acabou quando passarinhos enlouquecidos voaram sobre Vera. Piaram, piaram avisando, acabou. Levantei, abri a janela para ver um último que sentou num dos galhos de Vera.
*abri live no Instagram enquanto trocava olhares com Vera. <= Link 😉