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11 Jul
70. Pandemia, sonhos e citações soltas

De sábado para hoje, sonhei que estava com um grupo de pessoas e eu estranhava que estávamos sem máscara. Eu senti uma espécie de constrangimento, um questionamento que não fiz aos outros. Tomei um taxi e escondi meia face na blusa. Ele me deu uma máscara. Era uma máscara com elástico curto, que repuxava minhas orelhas, mas que me protegia e protegia os outros do vírus. Acordei e pensei nesse estresse que é estar atento o tempo todo para essa questão. Estou imunizada com a primeira dose, depois do dia 20 tomo a segunda, mais quinze dias terei um percentual de segurança. Máscara, higiene das mãos e cuidados continuam os mesmos. Alguma hora isso ameniza, depois acaba, mas ainda leva tempo. 

Ontem eu assisti uma fala de Marina Abramovic em um vídeo. Aqui o link com um resumo do evento on-line. Abaixo, um trecho que me tocou:

É interessante como a Covid-19 afeta tantas pessoas nesse planeta, e           tantas de forma tão negativa. As pessoas ficam deprimidas, clastrofóbicas, não conseguem lidar com este tipo de isolamento e também por não terem planos pro futuro. Acho que é um aviso para que nós parássemos. Até a pandemia eu estava andando pelo mundo como louca, pegando um avião atrás do outro, trabalhando em diversos projetos ao mesmo tempo. E aí a Covid-19 chegou. E então tudo ficou como que em câmara lenta. Não se podia viajar, não se podia ver amigos… E a forma de comunicação se tornou o Zoom… No isolamento é preciso criar algo. Mas quando se cria algo, e no meu caso, é uma performance, não uma pintura, escultura, então eu gosto de mostrá-la à plateia, mas para ter plateia é preciso ter vida, é preciso que eles participem da obra. Porque na performance a plateia e o artista completam a obra. Eu detesto Zoom. Acho que devemos esperar por tempos melhores. Na Idade Média, a peste negra varreu o mundo por 15 anos, centenas de milhões morreram. Agora estamos falando de dois anos, que não é muito tempo na história humana. E com a maioria das pessoas vacinadas, teremos nos próximos anos uma situação normal, as performances retornarão.

Lembrei que a pandemia fez eu me mover e preencher o corredor. Idealizo iniciativas mesmo que sozinha. Eu não odeio o Zoom. Também não amo. Converso, estudo me conecto por essas ferramentas. Posso ligar uma live e estar junto com pessoas, abrir uma janela do corredor por aqui ou no Instagram. Mas não sinto as pessoas no mesmo espaço comigo. Reflexões são bem vindas, provocações nas ruas, ações que provoquem o mover dos corpos. Mas como estar próxima? Tenho dúvidas, pode não ser seguro, tenho receios. 

Estou refletindo sobre uma ação com a Cadeira de Balanço na avenida, junto da árvore. Levar a cadeira para a ilha central e ficar ali por algumas horas. Não acredito que muitas pessoas se aproximem, pode ser que não seja perigoso. Estou pensando. Por estar construindo a ação na mente, no papel branco da criação, ouvi com ouvidos sensíveis uma coisa linda que a Lygia Fagundes Telles fala sobre a escrita do conto. Nilton Resende (estadual do Alagoas) disse, no podcast que indiquei ontem, por volta do minuto 31, o que segue:

Há uma definição que a Lygia fala sobre o conto que complementa o que o Julio Cortazar falou, que o conto é a fotografia e o romance é o filme. Daí a Lygia complementa, o conto é a fotografia de uma árvore, mas á alguém atrás da árvore. Eu acho isso fascinante. Então no conto há algo que pulsa que nós não sabemos o que é. Nós temos apenas a impressão de que há algo ali, que é essa segunda história, essa coisa que reverbera.

Tiro um pouco do contexto da escrita do conto, mas me lanço na imagem do que ela diz. Penso no tempo-espaço da performance, um estar entre a ficção e não ficção. Acredito que só viverei parte do que ela falou quando sentar diante da árvore, me apresentar em nova perspectiva e simplesmente ficar ali. O que estará do outro lado?

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