O texto abaixo é a narração do vídeo. Foi difícil fazer, as lágrimas ficaram por aqui. Pensei muito no fazer com ou sem distanciamento. Deixei a postagem ser o que pediu para ser.
Sugestão: Se você for obediente, não leia antes de assistir. Mas se não resistir, faça como preferir.
Acho que nunca chamei a minha avó de vó.
Ela era a Dedé. Dé. Nunca soube o que ela achava disso.
Sei que ninguém da minha classe tinha uma vó com nome.
Eu danço com as cortinas e sou o corpo dela.
Uma gargalhada alta, daquelas de se ouvir de longe. Está ouvindo?
Olhos melancólicos, muita dor ali.
Forte ou engole dor?
Calos por dentro e aspereza.
Na língua. Severa.
Com ela mesma?
Sonhei. Estávamos em um avião, voando baixo, chegando em São Paulo. O avião pipocou e parou no ar. Pareceu mais um carro sem gasolina na estrada. Sabendo que cairíamos, falei alto: Dedé? Eu te amo! Ela disse o mesmo e eu pensei na morte com doçura.
Acordei.
Levei o eu te amo para as cortinas. Saudades. Ali, abraçada, lágrimas consegue ver?
Lembrei nossas mãos, uma visita que fiz a ela no hospital. Ela segurou minha mão direita com a sua mão esquerda. Ela olhava as costas da minha mão e olhava as costas da mão dela. A Dé olhava as costas da minha mão e olhava as costas da mão dela. Essa é uma das coisas mais fortes que eu observei na vida, essas que faz o tempo parar. Ficamos ali, sem palavras. Uma só para a outra.
Como o avião que me devolveu para ela por alguns instantes antes cair.