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08 Jul
67. Bilhete para quem não conheceu a Dedé

O texto abaixo é a narração do vídeo. Foi difícil fazer, as lágrimas ficaram por aqui. Pensei muito no fazer com ou sem distanciamento. Deixei a  postagem ser o que pediu para ser. 

Sugestão: Se você for obediente, não leia antes de assistir. Mas se não resistir, faça como preferir. 

Acho que nunca chamei a minha avó de vó.

Ela era a Dedé. Dé. Nunca soube o que ela achava disso.

Sei que ninguém da minha classe tinha uma vó com nome.

Eu danço com as cortinas e sou o corpo dela.

Uma gargalhada alta, daquelas de se ouvir de longe. Está ouvindo?

Olhos melancólicos, muita dor ali.

Forte ou engole dor?

Calos por dentro e aspereza.

Na língua. Severa.

Com ela mesma?

Sonhei. Estávamos em um avião, voando baixo, chegando em São Paulo.  O avião pipocou e parou no ar. Pareceu mais um carro sem gasolina na estrada. Sabendo que cairíamos, falei alto: Dedé? Eu te amo! Ela disse o mesmo e eu pensei na morte com doçura.

Acordei.

Levei o eu te amo para as cortinas. Saudades. Ali, abraçada, lágrimas consegue ver?

Lembrei nossas mãos, uma visita que fiz a ela no hospital. Ela segurou minha mão direita com a sua mão esquerda. Ela olhava as costas da minha mão e olhava as costas da mão dela. A Dé olhava as costas da minha mão e olhava as costas da mão dela. Essa é uma das coisas mais  fortes que eu observei na vida, essas que faz o tempo parar. Ficamos ali, sem palavras. Uma só para a outra.

Como o avião que me devolveu para ela por alguns instantes antes cair.

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