Acabei de escrever um texto onde conto um pouco sobre minha experiência com as tigelas de cristal de quartzo. Resolvi adaptar o texto para o olhar-lente-corredor.
Quando eu ouvi, e vi, a tigela de cristal de quartzo pela primeira vez eu fiquei encantada. Assisti a um espetáculo em que a tigela, no palco, se mostrou para mim como protagonista. Fui tocada com a beleza do instrumento em cena e seu som cativante.
Busquei tigelas para tocar em casa e incluir, de alguma forma, em atividades meditativas e artísticas. Gosto dos sons. Eles me revelam tensões do corpo, estado de atenção e escuta.
Usei a tigela de cristal na entrega do TCC, apresentação do exercício cênico Corredor de Memórias - Corpo, Casa e Objeto no final de 2020. Também me utilizei de uma nota do piano na construção da cena. Usei duas frequências semelhantes, mesma nota, mas diferentes na vibração do material. Uma, pó de cristal de quartzo, outra, corda do piano. Tocava os instrumentos e deixava vibrar até o som "sumir".
Gosto de misturar os sons de mais de uma tigelas, mas a experiência com a frequência de uma única tigela é fascinante. Quando ouvimos um único som, um som contínuo, sem pausas, ouvimos também seus harmônicos, notas que sempre caminham juntas. Isso sempre acontece com sons de qualquer natureza.
Às vezes eu paro para ouvir o som do motor da geladeira, de um avião que passa ou mesmo o ruído de uma moto na avenida. Sons desagradáveis? Busco sons dentro dos sons, sons que aproximam ou se afastam. Ressignifico o que é feio ou bonito, o que irrita ou acolhe.
Com o movimento da memória não é diferente. Ouço o passado coletando ruídos, músicas e falas. Um exercício árduo, nos últimos meses, diário. Como coletar deixando o que penso de lado? Ouvir sem julgar? Sem dar muita importância?
Tenho usado no corredor sons do violão. Poucas notas, um ecoar que aparece e some. Quase uma desconstrução de canções e exercícios de técnica de instrumento. Na postagem ENTRE SEM BATER conversei sobre acordes maiores e menores, matemática e infinito. Me alegra tentar explicar, para mim mesma, as diferenças mínimas que causam grandes efeitos na escuta sensorial e sensível.
Nunca levei uma tigela de cristal para o corredor. Elas não fazem parte desse passado. Acho que a experiência poderia fazer parte de uma próxima visita. Quem sabe encontre relação entre os sons de tigela e o corredor? Colocar no corredor dois passados e a memória presente. Vou considerar essa frase na escrita de um próximo programa performativo.