Na postagem anterior, mostrei uma foto que a Bu me enviou e as fotos que enviei como resposta. Liguei para ela e conversamos sobre os negativos que ela recuperou na semana passada, sobre nossos momentos de vida e sobre algumas palavras. Uma delas é REVELAÇÃO.
Refletimos sobre processos analógicos como fotos e K7s. A revelação manual tem um tempo próprio, para virar imagem, é preciso que todo um processo aconteça. Tempo e um espaço, escuro. A imagem aparece aos poucos e existe arte do tempo.
Falei que observei que em uma das foto eu vi RASTROS de pessoas na avenida. Ela me explicou o processo, que ela queria captar os rastros dos carros, o movimento dos carros. Ela não tinha reparado as pessoas, estão ali por ACASO. Quem são? Alguém de casa?
A conversa não foi só emocional. Ela teve poesia, palavras potentes, pensamento. Um pensar filosófico?
Falei como eu a via naquela época. Ela parecia mais interessada no processo de revelar do que no fotografar. Ela concordou. Revelar tem outro sentido hoje. O que significa revelar em nossa era digital? Pós-digital?
As fotografias de celular nos roubaram esse tempo. São mais instantâneas do que as Polaroides. A foto instantânea do século passado também demorava para aparecer. Eu me recordo que parecia mágica. Dava vontade de abanar e soprar para agilizar o processo. Hoje gravo live-corredor. Ligo a câmera e você pode assistir de onde estiver. Faço uma foto, posto no Instagram e você me vê quase que na mesma hora.
Desde que minha irmã achou os negativos, reflito sobre as interferências que as imagens sofreram. Ela disse que os negativos estão com mofo. Que imagens o mofo revela quando passado pelo escaner digital?
A conversa não foi, ao mesmo tempo que foi, nostálgica. O melhor é que a pesquisa se utiliza de todas essas tecnologias, tecnologias de 1971 até 2021. São todas elas perspectivas reais e possíveis para revelar em rastros as memórias do corredor.