Ninguém poderia supor que viveríamos o que estamos vivendo. A Pandemia causada pela covid-19 foi, e é, o maior susto, o maior pesadelo que nos poderia acontecer. Não preciso listar as tragédias que estamos vivendo. A maior parte dos seres humanos sente no corpo essa dor, todos os dias, com maior ou menor intensidade.
Eu resolvi fazer Mestrado quando estava finalizando a Especialização em Corpo: Dança, Teatro e Performance. Estar estudando nesse período tão crítico do mundo, me auxiliou. Eu me senti trabalhando a minha arte, mesmo que sem a possibilidade de estar ensaiando com algum coletivo, no palco, na coxia ou na plateia. Em 2020, eu pude aprofundar nos estudos do corpo, numa pesquisa autoral, mas que pode agora ser registrada como a marca de um tempo, a voz desses nossos tempos de confinamento. Eu me senti mais expressiva e também política, resistindo na poesia. Poesia que também dói.
Foi na especialização que comecei a escrever um blog. O blog ficou fechado, era só para alguns colegas e minha orientadora na época, Profa Karina Almeida. Do blog saiu a base principal do texto do memorial do meu trabalho. Também me utilizei do YouTube para publicar vídeos. A comunicação com a Karina se deu, em grande parte, por esses recursos.
Em janeiro de 2020 eu não pensava em fazer um Mestrado. Eu queria abrir uma sala para oferecer pequenos workshops de corpo e voz, atendimentos de reiki (sou reikiana), meditação com bowls de cristal e outras possibilidades que propiciam arte a autoconhecimento. A sala está pronta, mas as portas ainda estão fechadas, esperando por um percentual maior de pessoas vacinadas aqui no Brasil.
O Mestrado em Artes da Cena não foi sonhado. Um dia acordei, enviei mensagem para a Karina. Pensei em continuar estudando. Conversei com a coordenadora do curso e esbocei um projeto. Enviei. Tudo muito rápido. Em tempo de pandemia, planejar é quase um luxo.
Tinha ideia de um trabalho em que viveria encontros presenciais com diversas pessoas. As pessoas que estariam comigo, mudaram seus planos de vida com a pandemia. As coisas mudaram e tinha que ser.
Sei que a minha pesquisa está transformada. Apesar de não ter sonhado com o mestrado, hoje, minha pesquisa é como um sonho. Sei que sou e vivo de forma privilegiada. Eu revisito o apartamento que passei a infância, escrevo páginas de diário, escrevo dentro do universo fantástico, invento memórias, faço música, registro ruídos... Coloco isso, agora, a disposição, a pesquisa está toda aberta, para quem quiser assistir. Já existe até como passado. São, com esta, 24 postagens. Além disso, vídeos-esboços como gosto de chamar, num canal de YouTube com o mesmo nome. E um Instagram também. Territórios virtuais, companheiros de pesquisa.
Hoje, conversando por WhatsApp com minha orientadora, Profa Sônia Azevedo, falamos do tanto de diálogos que temos nessa outra ferramenta. Preciso escrever sobre essas conversas preciosas e compartilhar de alguma forma com o mundo as trocas que tenho com a Sônia. Todo esse aparato tem auxiliado muito a nossa troca. Tudo em tempo real, a pesquisa se transformando, sendo hoje uma performance e amanhã outra, ou melhor, um continuum performático. Existe isso?
Agora mesmo, noite de aula, assisti apresentação de quatro colegas (Airen, Ana, Alan e Alexandre) contando sobre suas pesquisas, seus sonhos. Pesquisas que me emocionaram profundamente. Chorei em alguns momentos. Serão as lágrimas pesquisadoras? Por algumas vezes me perguntei se o que estava fazendo era relevante, se estava contribuindo com o mundo de alguma forma. Sei que, se tudo parasse por aqui, já valeu. Por isso continuo. E estarei aqui, todos os dias contando pelo menos um dos meus motivos de acordar para um novo dia.
Mestrado em Artes da Cena e Especialização em Corpo: Dança, Teatro e Performance na Escola Superior de Artes Célia Helena.