Saí do hotel, carregando a cortina, segui em direção a Plaza Urquinaoana. Tirei bilhete e máscara do bolso. Desci escadaria do metrô, vesti a máscara, passei na catraca. Senti alguns ventos que só se sente quando se está nos corredores de algum metrô. Não estava quente, mas também não se tratava de uma brisa fresca.
Não me demorei muito nesse pedaço do trajeto. Tinha preocupação com o tempo, com a hora de chegar na galeria. Eu sempre me questiono sobre o calcular do tempo. O metrô parou na estação Arc de Triomf e saí para a direita, subindo escada, passando catraca e seguindo até a saída Carrer de Roger de Flor. Me sentei num banco. Parece que tudo começaria mesmo ali, que eu poderia ver o tempo da realidade.
Percebi uma estatua que carregava também sua cortina. Foi assim que li essa memória da cidade.
Quando cheguei na frente do arco, pude ver a praça viva. Todos que estavam ali estavam contando histórias. Vi bandeiras da Ucrânia, um grupo grande cantando suas dores, crianças correndo, músicos tocando suas músicas e era possível absorver toda a polifonia no tecido da cortina.
Atravessei dançando e voando com a cortina. No tempo que era para ser. Algumas notas e vogais saiam correndo a minha coluna. Sentei duas vezes para sentir meu assento.
Entrei na galeria e atravessei. Me emocionei com as lajotas aplicadas no chão. E eu sabia que estavam lá, mas era como se eu não soubesse.
Ouvi aplausos e fiquei confusa.
Depois contei um pouco sobre minha pesquisa de mestrado. Sei que ainda vou escrever melhor. Mas já esperei demais para escrever.
Foram dias com muitos detalhes. Preciso escrever mais, acho que ainda não elaborei. Tenho fotos e vídeos para separar. As fotos foram retiradas do vídeo maior que o Henrique Murta gravou. São os 18 minutos que cruzei do arco até a faixa de pedestre da rua da galeria.