A pesquisa Corredor de Memórias vai viajar. É que em performance a gente perde a ideia do que é pesquisa artística, acadêmica, ação artística ou a vida de fato. É uma cadeia de afetos em ação contínua. Uma busca infinita de afastamento do eu. Aqui eu poderia desenvolver toda uma fala sobre a questão do pensamento e o trabalho que a gente pode fazer em si. Mas isso fica para outro dia e momento.
É que estou um pouco mais na pele hoje.
Duas pessoas entraram com muita força na pesquisa. Uma vocês ja conhecem. A Bu, a Maria Luiza, minha irmã, a pessoa que escolheu meu segundo nome (Cláudia), a Malu Mesquita, fotógrafa. Ela faz parte das minhas histórias reais e meus contos autobiográficos, foi com ela que troquei bilhetes no início da pesquisa e também foi ela que me lembrou, com um registro antigo, que da janela do apartamento 1425 da Paes de Barros é possível ver uma árvore sobrevivente.
Outra pessoa que chegou foi o irmão da minha irmã. Você tem um grande amigo que você também chama de irmão? Ela tem e esse é o Renato. O Renato Negrão é professor pesquisador em crítica de processo artístico, fotógrafo e curador. Eles já trabalharam juntos em muitos projetos e exposições.
Mas que história é essa de viajar com o corredor, Maria?
Já faz alguns meses a Bu me perguntou:
Quer ir comigo para Barcelona? Vou expor lá.
Eu disse que sim. Mas não foi um sim que se diz como uma questão lógica. Em alguma fase da minha pesquisa a Sonia sugeriu que eu olhasse para meus ancestrais. Eu fiz algumas viagens conhecidas, livros da história da família do meu pai, fotos, nomes que me lembro.
Liguei para minha mãe e perguntei sobre o pai dela. Eu não conheci meu avô, mas ouvi algumas histórias sobre ele. Sei que minha mãe falou de seus avós. Que eles eram de Molins de Rei (nome escrito em Catalão), município que fica na província de Barcelona.
O sim que eu falei para minha irmã foi um sim curioso. O que existe nesse território? Quais rastros da minha história eu posso tocar?
O Renato está organizando a exposição com alguns fotógrafos brasileiros. Sabendo que eu estava indo com a Malu, me convidou para fazer uma performance. Foi assim que começamos uma criação mais coletiva, em rede. Onde que a minha pesquisa entrelaça a pesquisa da Malu e de que forma o Renato enxerga o enlaçamento dos dois trabalhos, agora em três! Aqui caberia falar de redes de criação na pesquisa, mas comentei, estou tocada agora com a emoção.
A Bu foi até o Corredor de Memórias e fotografou o piso, as lajotas que serão aplicadas no chão da galeria. Eu vou retirar uma parte da cortina para carregar comigo durante toda a viagem, inclusive na performance. O fato é que ainda não sei o que vou fazer, mas sei o que estou fazendo. Tenho chorado litros.
Na foto abaixo, a Bu está fotografando as lajotas com os bilheteiros que usei num dia que tentei fazer uma arvore genealógica para me encontrar com meus avós e outros antepassados. Eu estou entendendo o descosturar da cortina que irá comigo até Molins de Rei e voltará para a janela. Nunca mais seremos as mesmas. Já não somos. Nem eu, nem a cortina, nem a pesquisa. Seremos algum tipo de rastro que fica e que volta com a pele.