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26 Feb
170. Sobre organizar o blog e Sobre meu processo vertiginoso

Estou pensando o que é necessário na pesquisa. Será que preciso organizar o blog? Contar para o leitor como ele deve caminhar por meu processo? Será que estou entrando naquela história de querer explicar a minha arte? 

Eu comecei a separar o blog por assuntos, tirar textos do blog e colocar em outro setor, coisa difícil de explicar agora, com sono. O fato é que comecei a achar que algo não está bom, e que não estou de fato gostando de fazer isso. O que acontece é que não tenho medo de testar e ver como fica. Não tenho medo de trabalho. Mas se não fizer sentido, resolvo de outra forma.

Eu fui motivada a escrever o blog pelo calor do tempo, do dia, no tempo presente. E assim, como quem abre um caderno, eu abro o editor de texto deste blog. Ele, por ser blog, é organizado em ordem cronológica. É assim a sua organização. E raciocinando sobre processo de criação, isso já é organização. Não existe bagunça, caos, desorganização na postagem de um blog. 

NADA SE PERDE NO BLOG. 

Ufa! Precisava escrever isso em caixa alta. 

O blog é linha do tempo, é fácil. É só fazer uma pequena inversão na ordem. O leitor interessado no meu processo pode começar da postagem 1. e seguir até esta postagem. A organização é clara e simples, não preciso fazer mais nada.

Agora eu pensei sobre o que pode parecer vertiginoso no meu processo de criação. Vou pedir ajuda para meu amigo, Cortázar. 

Há pessoas que quando se deslocam um pouco, ficam inquietas e sentem vertigens, não gostam nem um pouco da coisa. Preferem que dois e dois sejam sempre quatro e todo movimento, todo deslocamento produz nelas uma certa angústia. (CORTAZAR, p. 17). 

Hoje, ao reler esta citação, me dei conta que em nenhum momento o blog me causa vertigem, ele tem estrutura, é onde todo o meu pensamento corre em espiral. O que causa vertigem é a saída de uma ação para outra. E eu gosto desse deslocamento, da vertigem que deslocar me causa. São as tessituras de tempos do processo conversando. Uma partitura que me desloca até o violão, que me faz gravar e levar a repetição sonora ao corredor, que me faz pensar que o corredor tem em seu piso as cordas de violão desenhadas que me conduzem ao janelão que fica de frente a uma árvore, que me faz derreter os olhos, derramar lágrimas pesquisadoras deitada debaixo do piano e depois dançar com as gavetas vazias até o corredor ficar cheio. Tomar ar numa cadeira de balanço na avenida e voltar para o mesmo lugar. Para o blog. Eu tenho um produto, um blog habitado de muitas marias. 

Será que o leitor vai se sentir tonto de passar por cada uma das postagens? Eu não me canso, não sinto sono. E "se alguém está com sono, que vá dormir." Cage diria isso, disse em Conferência sobre o Nada. Eu não estou fazendo nada, eu não tenho produto. Tenho um blog cheio de minhas memórias e uma pesquisa. Se eu precisar  chamar de produto, posso chamar. Mas ele não é cheio de sub-produtos, ele não é uma fábrica. Ele é registro de uma artista vivendo a produção de si. "Lembrar de si lembrar de si lembrar de si lembrar de si lembrar de..." que é um dos conceitos do Caminho do Canto***.  Me jogo na tarefa de ser desimportante de me afastar do meu ego, do deixar tudo arrumado e limpo.

Sim, me utilizo de diversas artes, música, performance, literatura, foto, vídeo. Dialogo com o processo de criação, coisa que sempre gostei de fazer. Exagero na busca, vou fundo, levanto muito material. Trabalho duro no meio do excesso. Hoje me questionei. O leitor não deveria trabalhar também? Não seria mais genuíno ele se jogar na linha do tempo que o blog, de saída, já propõe? Se tiver com sono é só ir dormir e recomeçar no dia seguinte.

Eu me lembrei do texto da pequena maria, Claraboia - Chão de vidro. Depois desse texto, o prédio 1425 da Avenida Paes de Barros ficou recortado do teto até o segundo andar. Pensei que se agora, você está lendo esta postagem, se você se interessar por tudo que escrevi, você pode entrar pela claraboia no topo do prédio e como uma Alice, cair pelo buraco até a primeira postagem e ir passando por territórios que te levam a qualquer lugar. Afinal, eu não tenho um caminho, eu tenho um corredor. Um corredor com claraboia, chão de vidro e o que mais existir-não-existindo. 

Caminho do Canto é escola de pensamento filosófico musical criada e coordenada por Andrea Drigo.

CAGE, John. Silêncio - conferências e escritos de John Cage. 1ª ed. Rio de Janeiro: José Olímpio.

CORTÁZAR, Julio. Aulas de Literatura – Berkeley, 1980. 1ª ed. Rio de Janeiro: Cobogó, 2019.


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