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05 Nov
146. Reflexões sobre os cartões para a caixinha

Ontem eu comecei a perfurar um cartão. Posso dizer que estou compondo para a caixinha. Busquei, primeiro no violão, algumas possibilidades, notas. Usei lápis e marquei o que estava querendo experimentar.

Qual o lado do cartão com notas mais graves? Qual o lado da engrenagem que produz um som mais agudo? Perguntas. Medo? Qual o motivo de esperar mais de 10 anos para aceitar o chamado de um desejo? É nesse lugar de espera que podemos investigar em profundidade nossos processos artísticos, nossos processos de vida. 

Hoje foi dia de NPP (núcleo de pesquisa da presença) e a Airen disse, sobre a procrastinação, esse "medo" que nos faz deixar para depois algo que nos é tão importante, tão urgente. Ela falou sobre abraçar a procrastinação e escutar o que ela diz. 

Dez anos para ouvir? 

John Cage procurava o silêncio. O que procuro?

Sei que hoje, continuando a composição, percebi semelhanças do quadriculado do cartão com as lajotas do apartamento. Do quadriculado do cartão com o braço do violão. Achei mais um tabuleiro. Pensei nos furos como o guia de leitura do blog e outras possibilidades. Sei, que além da música que está se formando no papel cartão, outras vozes me falam coisas enquanto experimento, com as minhas mãos e ouvidos, furo a furo, achar um som, um movimento, uma pergunta.

Cito aqui Cecília Salles "o percurso criativo observado sob o ponto de vista de sua continuidade coloca os gestos criadores em uma cadeia de relações, formando uma rede de operações estreitamente ligadas. O ato criador aparece, desse modo, como processo inferência, na medida em que toda ação, que dá forma ao sistema ou aos "mundos" novos, está relacionada a outras ações e tem igual relevância, ao se pensar a rede como um todo. Todo movimento está atado a outros e cada um ganha significado, quando nexos são estabelecidos." (2011)

Assim eu sigo o meu percurso, dando forma ao meu mundo-pesquisa, meu mundo-arte. Como a pequena conversa que tive com a Sônia por WhatsApp. A Sônia passeou sobre O Jogo da Amarelinha, sobre o universo que se abre e vai se abrindo e não tem fim. Falou que as  pesquisas vão encontrando conclusões ao longo do tempo, mas as verdadeiras pesquisas sobre arte e processos de criação são infinitas. 

Sigo o caminho. 

Sigo o caminhar infinito!

*Trecho do livro Gesto Inacabado de Cecília de Almeida Salles.

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