Para me encontrar com a pergunta, comecei a rever, refletir sobre alguns outros processos artísticos que vivenciei. Reparei que é comum encontrar perguntas nos meus textos.
Eu me recordo que na peça A Primeira Palavra, a personagem, Laura queria muito escrever uma história. Durante todo o texto ela pergunta e se pergunta sobre o que é e como se escreve uma história. Eu me recordo que eu estava buscando uma história para a trupe que fazia/faço parte, a Instante. Já estávamos ensaiando e tínhamos somente um esboço, alguns contos que escrevi no início de 2015 (mesmo ano que estreamos a peça).
Antes de A Primeira Palavra, estreamos outro trabalho, A Espera Dela. Pensei que seria possível repetir o processo de criação da escrita de textos para A Espera Dela, peça que foi toda feita com recortes de textos de diversos autores e poemas que escrevia durante o processo de pesquisa. As atrizes queriam falar sobre violência contra a mulher e o processo foi me motivando a escrever.
Voltando ao texto para a infância. Imaginei criar uma peça, como a outra, feita de recortes. Fomos para a sala de ensaio com alguns textos, as atrizes improvisavam, seguiam orientação da diretora. Eu voltava para casa e sentava para escrever. Escrevia, jogava fora, escrevia, reescrevia. O roteiro saiu e o processo de criação não tinha nada a ver com A Espera Dela. A história quis outros rumos.
Coincidências:
A Primeira Palavra termina com uma pergunta.
A Espera Dela também.
A interrogação amplia, nos faz pensar, nos ajuda a construir novos pensamentos, caminhar por novas perspectivas.
Nas duas peças eu usei elementos da minha vida pessoal. Em A Primeira Palavra, os nomes das personagens são nomes da minha sobrinha, minha irmã e minha mãe. As cidades fantásticas carregam o nome de minhas avós. Toda vez que encenávamos a peça, eu sentia esse território familiar se abrir como um tabuleiro paralelo enquanto eu estava no palco tocando e cantando.O texto final de A Espera Dela contava coisas que vivi com minha avó, mãe e irmã. Muitas mulheres viveram as mesmas coisas. Eram vozes do passado na boca das atrizes. Passado de quem? De mulheres.
No meu trabalho de TCC eu trabalhei com uma cadeira de balanço que foi da minha avó paterna e da minha mãe. Hoje eu me encontro improvisando no apartamento que vivi infância e adolescência.
Considerando a lista de pensamentos da postagem anterior, dormi pensando na pergunta e acordei com uma possibilidade de encontro com ela:
Onde nascem as histórias? Em qual momento elas nascem?
Pensei que na criação de jogos podemos enxergar, ver a história acontecendo. Nem sempre o ponto exato, ou aquele que supostamente procuramos, se mostra.
Algo (indefinido) faz aparecer, durante o jogo, no fazer.
Encontrei a reflexão sobre "algo indefinível" no livro Linha de Horizonte – por uma poética do ato criador de Edith Derdyk.