O ar passeia. Quando chega às narinas, voam dentro, por dentro, pra dentro, numa espécie de avesso onde tudo é mínimo.
O óbvio se transforma em mistério. É que não é todo tempo que se pode ver o sacudir dos varais que secam roupas por baixo da pele.
Ar que se ouve é voz. Escapa em frestas, um mecanismo inteiro de fazer som nos espaços entre. Assobios em noites de ventania. Assombro por não se se ver o ar que se esfrega na frestas.
Ar-voz que se vê é reflexão. Corpo todo em pensamento. Sem transitar o corpo, sem re-pensar o corpo todo, voz pode ser qualquer coisa sem reverberação. Ruído monótono sem substâncias ou pulso.
Voz do ar que voa passa deixando um rastro, mostra tudo que é ser. Dá voltas no corpo, corpo pele que cobre ossos, estradas de sangue, vísceras, tripas.
Primeiro o ar brinca de se enfiar no nariz, fendas. Na boca, ruídos, mastigação de sons.
Chega um momento que a voz acontece. Simplesmente, quando flui no fluxo do invisível que se pode tocar.
Ou é só bobagem do ar.
*Entoando vozes para a live