124. Utilidade das listas
Pensei durante algum tempo sobre o comentário da Sônia na última postagem. Ela disse as listas, pra mim nunca foram pra serem cumpridas... são apenas lembranças (...) Listas não são obrigatórias né?
Acho que não são. Pensei nas listas de supermercado esquecidas dentro das bolsas, nas listas de tarefas, nos alarmes de celular para acordar obrigações durante o dia, nas contas para pagar entre os dias 5 e 10 de todos os meses. Listas de ingredientes das receitas que nem sempre respeito, pilhas de livros que separo para ler em determinada ordem e não leio, livros que passam na frente dos outros, tarefas para dar sequência a pesquisa, tarefas para não deixar de me divertir.
Não esquecer... mas posso sim, não me lembrar, deixar pra mais tarde ou deixar pra lá!
Imaginei listas do corredor. Uma lista infinita e vertiginosa de memórias, uma escada em espiral. Elas se apresentam de forma aleatória:
festas de aniversários;
amigos que não sei onde estão;
objetos desaparecidos;
saudades;
livros e brinquedos esquecidos;
jogos (detetive, war, scotland yard);
discos;
o dia que trocamos o recheio dos almofadões da sala;
k7s;
os dominós de reação em cadeia que o meu pai montava;
noites junto com o gato;
sons da avenida;
aromas de pão da padaria;
pão de queijo da Célia;
cheiro do tratamento da medicina ortomolecular que a Dedé fazia (fedia a milho);
bardana na panela a vapor (lembra a doença do pai);
creme pondes da minha mãe;
minha mãe perguntando se a roupa estava combinando;
meu pai desencravando minhas unhas dos pés após aula de ponta no ballet;
balões de duas bocas em dia de jogo do São Paulo;
shampoo jonhson, neutrox e sabonete vinólia no chuveiro;
a colher girando na caneca enquanto a Dedé batia gemada;
caneta relógio vinda do Paraguai e que a Bu me alugou por 50 dinheiros para eu levar na escola;
tampas de caneta bic no fundo das gavetas;
canetas estouradas nos bolsos das calças da escola...
Listas e mais listas com a única utilidade de desenrolar histórias.