Já faz tempo que eu quero levar a cadeira de balanço para a avenida, para perto da árvore. Estou pensando como experiência, mas também como foto performance ou vídeo performance. Me lembro do Junior Romanini dizendo em suas aulas sobre o deixar a performance vazar para a rua, deixar borrar. Também é uma forma da Bu, minha irmã, Malu Mesquita, agregar na pesquisa. O que vejo na árvore? Por que levar a cadeira para a avenida?
Ontem, conversando com a Bu, falei, falamos, sobre a ação com a cadeira de balanço na avenida. No final da década de 1970 um corredor de ônibus foi construído na avenida. Assistimos isso da janela. A cadeira sempre ficou no corredor do apartamento, a árvore teve a sorte ou privilégio - ou o inverso - de não ser retirada da avenida quando o corredor foi construído. Quero colocar a cadeira próxima de outro corredor. Quero saber o que tem do outro lado da árvore, seja o outro lado a parte que for. Desejo unir nossas memórias. Unir? Que bobagem, já estão unidas. Só quero estar bem perto e explicitar numa imagem.
Penso no registro em vídeo e foto, não só como registro de processo, mas realizando como vídeo e foto performance. Sei que gosto dos sons da avenida e do trólebus. Gosto de ver as pessoas passando quando tem feira na rua de trás.
Mas o que entrego para a cidade? Qual a reflexão que não é só minha? Sei que vou saber quando estiver em ação. O que penso inicialmente é na interferência de um corpo poético no cotidiano, a relação de corpos sobreviventes (a árvore e as pessoas), a relação entre pausa para olhar uma árvore num espaço público que quase não vive pausas. A árvore está ali, há mais de 49 anos, se nutrindo da terra que é possível, dando espaço aos pássaros. Desejo o pouso na minha cadeira ninho!
*Foto: Bu e eu. A cadeira de balanço ao fundo!