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21 May
180 - Bilhete para Dedé

Dé, eu sonhei que te procurava. Eu usava uma roupa clara, por cima de uma camiseta amarela. Retirei uma parte das cortinas do janelão da sala e quando desci o elevador eu ja estava no metrô. Não estava no apartamento 31 do 1425 da Av. Paes de Barros. As pessoas ao meu redor e falavam espanhol. A bisa Josefina falava espanhol, Dé? 

No meio de tanta gente, te chamei, achei que era você. Depois eu vi que era outra pessoa, daquelas que no sonho a gente sabe, mesmo sem ver a face, que não é quem a gente procura.

Peguei um dos trens carregando as cortinas. Senti vontade de chorar, senti tão forte que você estava comigo. Parecia até aquela música do Cazuza. Poema. Ele escreveu para a avó dele. Todos os poetas tem avó, Dé? 

Subi escadas. Estava de sapatos, pensei em ficar descalça. Não sei se queimaria meus pés. Gosto de pisar descalça no chão das escadas, no asfalto, nas calçadas. Era sonho, ficou claro  meu medo de queimar a pele da minha base. 

Vi um arco, uma praça. E fui ali te procurar. Eu tinha certeza que no meio daquelas pessoas eu encontraria seu riso, seu abraço. 

No meio do caminho eu te vi voando, livre, dentro de uma bolha de sabão. Corri para te tocar, não consegui. Olhei mais bolhas e te vi passar novamente. Eram tantas Dedés que fiquei sorrindo fascinada. Estiquei a cortina e abracei as bolhas todas de uma vez só. 

Sim. Acordei!

*Foto: Malu Mesquita

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